Noite no hospital
Santa cruz,(RN) 15/05/2010, 23h53min.
Meu avô passa mal, eu tenho que levá-lo para o hospital. Falta transporte para levá-lo, tenho muito trabalho em arrumar um transporte, depois de mais de 40 minutos eu percorri a cidade quase toda de moto junto com meu irmão para arranjar um carro para levar meu avô para o hospital.
Gastamos quase meia hora para chegar ao hospital e quando chegamos lá passemos mais 40 minutos para ser atendidos. E enquanto esperava o atendimento do médico me penalizei e tentei confortar um senhor deficiente físico de 51 anos de idade, que perdera a perna num acidente numa rodovia estadual, um carro bateu na sua carroça de burro matando uma pessoa que era amiga dele e o deixando com uma perna amputada. Mais esse acidente ocorreu há alguns anos atrás e o motivo das dores dele é a apendicite.
Esse senhor passou 40 minutos de dores ao meu lado, junto com meu avô. Tentei consolar ele de varias maneiras, dizendo que o médico tava vindo, sendo que só tinha um médico e este estava atendendo uma paciente que acabara de chegar ao hospital de carona na mala da viatura policial ou como chamamos aqui o "camburão", essa mulher chegou desmaiada, e muito mal, ela tinha perdido muito sangue e isso estava causando uma espécie de parada cardiorrespiratória nela.
Nosso atendimento estava demorado e ia demorar mais ainda com a chegada dessa mulher no hospital, pois não sei se falei antes, mas no hospital só tinha um médico e este foi atender a mulher que estava em crise.
Tentei me afastar para um lugar do hospital, onde tivesse menos agitação. Como falei antes, aquele senhor de 51 anos estava com fortes dores, e ao longe poderiam ser escutados seus gritos de dores. Não bastando ouvir os gritos de dores desse pobre senhor, aparece uma senhora que aparentava ter uns 64 anos de idade, que chegara ao hospital com muitas dores e com muitos gritos, pois seu marido que não me recordo à idade certa dele, ele acabara ter falecido nesse hospital há algumas horas.
Segundo relatos de uma enfermeira, eu pude ficar sabendo que o transporte que vinha transportando esse senhor quebrou o eixo na entrada do hospital e os enfermeiros que estavam de Platão no hospital tiveram que transportar ele numa maca, uma espécie de "cama", mais quando esse senhor entra pelas portas do hospital ele falece. Por isso que aquela senhora estava gritando por quer queria seu marido de volta aos seus braços.
Mais voltando à mulher que veio de carona na viatura policial, ela estava muito mal, mais ficou sob observação de um enfermeiro para que o médico pudesse a atender aos outros pacientes.
Pacientes como aquele senhor que tinha uma só perna e estava a mais de uma hora sentindo dores e sem nenhum médico ou enfermeiro ali perto, para ajudá-lo.
Esse senhor foi medicado e ficou sob observação, depois foi à vez de uma criança que aparentava uns oito ou sete anos de idade que estava gripada e cansada e estava ali há quase uma hora para ser atendida e quando ela foi atendida foi à vez de meu avô que estava com dores no estômago e estava fazendo cocô de estante em estante.
Quando fomos falar com o médico ele foi muito arrogante, e disse: "o quê você ta sentindo"? Claro que era dores, mais o médico não raciocinou e escreveu um medicamento num papel, mandou medicarem o meu avô, que reagiu mal à medicação forte ou exagerada talvez. Mais enfim ele desmaiou, ficou por um bom tempo desmaiado, depois retornou as suas faculdades mentais ao normal.
Quando sai da minha casa era menos de meia noite, quando cheguei em casa era 02:40 da madrugada.
Sei que meu avô foi atendido, mas esse relato mostra o quanto o sistema de saúde da cidade de santa cruz, cidade onde moro a mais de 20 anos, é precário.
Tente ver que o intervalo de cada atendimento. Foi grande, e que nessas horas você fica desesperado em ver alguém sofrendo na sua frente e não poder fazer nada.
Tinha uma senhora com seu marido que estavam no hospital com seu filhinho medicado deitado numa cama, eles saíram do quarto e chegaram perto de mim e me perguntaram que gritos eram aqueles.
Eu com lágrimas nos olhos respondi: "não sei o quê é pior, está no lugar deles ou saber que eles estão sofrendo, e você não poder fazer nada para ajudá-los.
Os gritos que aquela senhora e seu marido e alguns presentes que estavam lá no hospital estavam ouvindo era o choro daquela senhora que tinha perdido naquele instante seu marido amado. E os outros gritos eram gritos de dores do senhor que tinha uma só perna e estava gritando de dores.
(É simplesmente nessas horas que vemos o quanto a vida é valiosa pense nisso.)